“O Vendedor de Sonhos”, adaptação teatral do best-seller homônimo de Augusto Cury, é uma obra que alia a força do teatro à profundidade da psicologia para entregar uma experiência impactante, sensível e necessária. A transposição do livro para os palcos — assinada pelo próprio autor — revela não apenas fidelidade à essência da obra original, mas também inteligência dramatúrgica ao transformar reflexões filosóficas e emocionais em ação cênica envolvente.
O texto dramatúrgico mantém o lirismo e a densidade das ideias de Cury, porém adaptado com dinamismo e ibilidade para o público teatral. A peça não apenas entretém, como também provoca reflexão profunda sobre saúde mental, propósito de vida e empatia — temas de extrema relevância na sociedade contemporânea.
Sob a direção experiente de Luciano Cardoso, com mais de três décadas dedicadas à arte e ao espetáculo, a montagem ganha fluidez e um ritmo bem equilibrado entre emoção e leveza. A encenação valoriza os momentos de introspecção sem perder o engajamento da plateia, e faz uso eficaz de elementos simbólicos, como a vírgula vendida pelo Mestre — metáfora central e brilhantemente conduzida.
O elenco é um dos grandes trunfos da montagem. Cada ator imprime profundidade e verdade aos seus personagens, contribuindo para a construção de uma narrativa tocante e humana. Mateus Carrieri interpreta Júlio César com intensidade e vulnerabilidade. Sua entrega emocional é comovente e sustenta a jornada do protagonista com consistência dramática. Ele se mostra à vontade no palco e domina as nuances do personagem em transição entre o desespero e a esperança.
Milton Levy, como o Mestre, é o grande elo espiritual da peça. Sua atuação é marcada por sabedoria, carisma e uma presença cênica poderosa. Levy consegue equilibrar o mistério e a ternura da figura do mendigo-filósofo com uma naturalidade impressionante, sendo o coração filosófico da obra.
Adriano Merlini, como Bartolomeu, traz leveza e comicidade sem jamais banalizar o drama. Sua interpretação é cativante, e ele representa com dignidade e sensibilidade um personagem que poderia facilmente cair no estereótipo.
Fernanda Mariano, Bruno Sperança e Guilherme Carrasco completam o elenco com competência e versatilidade, assumindo papéis de apoio que enriquecem a trama e auxiliam na construção dos conflitos e reflexões propostas pela história. Eles dão ritmo e textura à narrativa, ampliando a densidade emocional sem sobrecarregar a encenação.
“O Vendedor de Sonhos” é mais do que uma peça: é uma jornada teatral que convida o espectador a se reconectar consigo mesmo. É raro ver uma obra que trata de temas como suicídio, dor emocional e sentido da vida com tanta delicadeza, coragem e arte. O espetáculo encontra no teatro um canal direto com o público e o utiliza com maestria — tocando, transformando e inspirando.
Ao final da apresentação, não é raro ver lágrimas discretas, sorrisos pensativos e aplausos emocionados. E isso é o maior elogio que se pode fazer a uma peça: ela cumpre seu papel artístico e humano com excelência.